O vírus da ferrugem é um bichinho que, quando ataca o ser humano, este passa a gostar de coisas velhas, a admirar antigos modelos de qualquer marca ou mesmo relembrar o primeiro carro do seu avô. Muita gente adquire o vírus da ferrugem só depois de uma certa idade, mas acho que o meu caso foi hereditário. Ele manifestou de verdade lá pelos 18 anos, quando cismei com uma picape Ford F-100 1958. Antes disso, só lembrava com carinho do Chevrolet Bel-Air 1955 conversível do meu tio.

Depois de um ano procurando pela picape, acabei achando uma que nem estava à venda, mas convenci o dono a vendê-la para mim, mesmo não tendo dinheiro para pagar. Pronto: o vírus começava a atacar. Daí em diante, a coleção de tranqueiras só foi aumentando. E a fase seguinte é bem conhecida de qualquer um que já colecionou carros antigos: vender tudo para casar. Mas a recaída é certa. Aproveito para dar um conselho às moças que pretendem agarrar um portador desse estranho vírus: nunca utilize a chantagem "ou eu, o essa lata velha!" Não há amor que resista a isso. Mas o fato é que o primeiro carro antigo a gente não esquece.

RARIDADES

Em meio a tantas novidades automobilísticas que esbanjam modernidade, às vezes os fabricantes proporcionam a um pobre portador do vírus da ferrugem uma diversão extraordinária. Foi o caso da Mercedes-Benz, que levou um grupo de jornalistas ao Classic Center, em Stuttgart, na Alemanha, apenas para experimentar alguns modelos antigos da marca, mantidos em perfeito estado e utilizados para locação. Por sorte, eu fazia parte do grupo.

Ao chegar ao Classic Center em um magnífico ônibus Mercedes-Benz dos anos 50, fui logo escolhendo o modelo no qual passaria a tarde dirigindo. Havia desde o legendário 300SL "Asa de Gaivota", até lomusines clássicas, passando pelos conversíveis dos anos 50, 60 e 70 e pelos mais tradicionais sedâs - cerca de uma dúzia de maravilhas sobre rodas. Optei por um SL conversível. O mais curioso é que, mesmo sendo todos Mercedes-Benz, e de propriedade da própria fábrica, dois caminhões de apoio seguiram o comboio de carros antigos que, literalmente, fez o trânsito parar. O que acabou sendo realmente necessário: dois ou três carros "deram pau" e deixaram seus motoristas na mão - situação comum para os amantes da ferrugem. Mas foi uma tarde inesquecível.

Quanto ao Bel-Air do meu tio, ele vendeu lá pelo início dos anos 70, provavelmente por uma ninharia, apenas porque a garagem de seu novo apartamento era muito estreita. Infelizmente para mim, que ainda não estava sob o efeito do vírus..

 

Publicado na Revista CARRO numero 62, dezembro de 1998, página 48

 
 

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