|
As pessoas que conheço têm me cobrado muito a respeito do
vírus da ferrugem, muitas vezes em tom jocoso, já que os brasileiros
ainda não consideram o antigomobilismo como algo sério, e
às vezes com muita curiosidade, querendo saber, entre outras
coisas, como é que se faz para guardar tanto carro, principalmente
sendo a maioria deles muito grandes. Aos primeiros e respondo
com alguma piada, fazendo-os acreditar que meu velho Ford
Fairlane 1963 tem muito mais valor que seu pobre Vectra do
ano. E tem! Sentimental, é claro. Aos outros, sempre vale
a pena gastar um tempinho alertando-os contra os excessos
desse vício.
Realmente, guardar a coleção de tranqueiras não é lá tarefa
muito fácil. Quem tem mãe, sogra ou um amigo compreensivo
sempre vai descolar uma vaga extra, apesar dos desconfortos.
A mãe liga toda a semana pedindo para tirar o carro: "É só
para lavar o chão!", diz ela, na esperança de que, depois
de muito tempo fazendo o carro pegar, eu vá guardá-lo em outra
freguesia. Pelo menos esse carro funciona uma vez por semana.
Com a sogra o procedimento
é outro. Em uma garagem coberta, o reluzente Chevrolet Impala
1963, impecavelmente original, é o que mais sofre, pois não
vê a cara do dono por meses. A dona da casa reclama, mas como
mora longe sempre há uma boa desculpa para deixar o carro
por mais um tempo. O chão fica sujo, mas ela se vinga vendo
as patinhas de gato sobre a pintura.
MENOS VAGAS
Não posso esquecer, no entanto,
das minhas acrobacias vinte anos atrás, quando haviam muito
mais carros e muito menos vagas para eles. Era a fase crítica
do virus da ferrugem, quando a coleção tinha mais ferrugem
que o dono e a rua era o único lugar disponível para guardá-los.
De graça, é lógico. A rua da minha casa já era bem conhecida,
pois modelos de todas as épocas ficavam expostos nas poucas
vagas públicas, que os vizinhos disputavam a tapas ao chegar
do trabalho. Em frente havia um prédio com os d |